"Platão, ateniense dos sécs. V-IV a. C., foi o fundador da filosofia e, com ela, da matriz espiritual do pensamento ocidental. Todos os seus textos são diá- logos, espécie de teatro dos conceitos, polarizados numa questão pré-filosófica (o que é a justiça? a coragem? a verdade? a ciência? o amor? etc.) e na inaparente complexidade dessa questão, e na maioria dos quais a personagem principal, porta-voz do autor, é Sócrates, de quem Platão foi discípulo e que nada escreveu.
O "Ménon" parte da questão «o que é a virtude? (ou a excelência humana, aretê)» e, também, «é ela transmissível (ensinável/aprendível)?», antes de, caído o diálogo num impasse (como procurar o que não se conhece?), derivar para a questão mais geral «como é possível conhecer?, o que é aprender?». É neste texto que Platão expõe pela primeira vez, com o famoso interrogatório do escravo, a sua tese do conhecimento como reminiscência, anamnese, actualização do poder virtual do pensamento por si ou autonomia intelectiva do espírito, que assumirá definitiva expressão na teoria da contemplação das Ideias da República."